José Luiz Cavalcante,Educação:Doutorando em Ensino das Ciências pelo Programa de Pós Graduação em Ensino das Ciências da Universidade Federal Rural de Pernambuco (PPGEC-UFRPE), Professor da Universidade Estadual da Paraíba - Campus VI - em Monteiro - PB. Mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade Estadual da Paraíba. Cultura; Musico, compositor, interprete, poeta, escritor, etc
O Nobre Cidadão Tupanatinguense sempre encontra um espaço na sua agenda para dialogar e contribuir com esse informativos na busca de melhor colaborar com a formação social e cultural da nossa terra, com vocês Zé Luiz:
"Ao contrário do pessimista, tenho esperança, afinal sou educador, acredito que a sociedade brasileira chegará em um patamar que se faz necessário repensar nossos valores, nossas atitudes, nossas metas. Acredito em nossos estudantes os quais têm feito um movimento de resistência legítima contra ao fascismo social que hora se instala em nosso País. Faço lembrar Geraldo Vandré, sempre atual... “vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer...”
por Jose Luiz
Há exatos dois anos me vali desta mesma coluna, aqui no Jornal Conexão Cultural, para expressar minha humilde opinião sobre o cenário político brasileiro e a crise que se anunciava. Relendo aquele texto hoje, me impressionei com o que escrevera naquele artigo. O contexto daquela época todos vocês conhecem, desemprego, combustíveis em alta, uma presidenta visivelmente despreparada assumindo legitimamente o seu cargo com um discurso pífio, uma oposição sem escrúpulos, covarde e pronta para vender a alma da nação para recuperar o poder. Confesso que as palavras que teci naquele artigo eram de um leigo no assunto, era um brado de um cidadão brasileiro indignado com o que via, hoje não é diferente, embora minhas preocupações sejam outras.
Curioso é ressaltar que
as dificuldades encontradas pelo nobre editor do “Conexão Cultural” me
permitiram revisar esse texto ao menos duas vezes, e todas as vezes que o fiz,
foi necessário acentuar a gravidade da crise política e institucional pela qual
passamos. Toda semana novos fatos, novos golpes se apresentam para massacrar o
povo brasileiro. Deixo aqui minha solidariedade a José de Nica, pois fazer
cultura e divulgar informação de qualidade não é fácil.
A razão para gravidade
está no desmantelo anunciado do Estado que se segue desde então, em 29/11/16
quando escrevi a primeira versão deste texto, o Brasil chorava a perda trágica
da delegação da Associação Chapecoense de Futebol. Naquele mesmo dia era eminente
a aprovação de emendas constitucionais que estavam em “discussão”, mas não em
debate, que sinalizavam tempos de retrocessos no modelo educacional do País,
dentre outras questões igualmente importantes. A reforma do Ensino Médio não só
foi aprovada, como de lá pra cá, projetos como terceirização irrestrita, e a
perca de direitos fundamentais estão sendo aprovados na calada da noite.
A segunda versão escrevi
em abril desse ano e de lá pra cá vimos a reforma trabalhista, que como diz a
grande mídia foi para modernizar a lei, passar tranquilamente. Com maior
gravidade o Sr. Presidente da República denunciado por duas vezes pela sua
conduta duvidável e o congresso nacional descaradamente vendido barrando as
denúncias. A corte suprema da justiça brasileira expondo o quão contaminadas
estão as instituições brasileiras, o dinheiro da corrupção sendo encontrado, os
corruptos usando do protecionismo corporativista para se proteger, como no caso
do Sr. Aécio Neves. Junte tudo isso e teremos o retrato perfeito do caos
político em que a democracia brasileira se encontra. O presidente sancionou a
“reforma política” que prevê dentre outros absurdos o financiamento publico das
campanhas eleitorais desses mesmos corruptos. Um fundo na ordem dos bilhões
parece muito para quem diz que não tem dinheiro e tem privatizado o que sobrou
do Estado, a Amazônia é o próximo passo. E a gasolina? Que me preocupava há
dois anos atrás, hoje parece ser o menor dos nossos problemas, afinal de contas
R$ 4,20 me parece um valor razoável, você não acha?
E segue o barco, dívidas
bilionárias estão sendo perdoadas e pouco se fala sobre isso, a própria
previdência tem somas astronômicas de débitos de bancos e outras empresas
privadas, daí o governo quer com sua reforma que o trabalhador, as mulheres, os
agricultores paguem a conta? Os impostos continuam em alta, e para conseguir
mais dinheiro a solução é privatizar, em dia se abriu um leilão, no mesmo dia
se arrecadou cerca de 12 bilhões. E o mercado segue ditando a regra do jogo,
afinal a reforma previdenciária, política, e outras mais se alinham com as
necessidades do mercado.
Não quero anunciar um
cenário apocalíptico com estas linhas, porém preciso ser duro e veemente na
defesa de que os caminhos escolhidos pelo atual Presidente da Nação e sua
equipe de ministros de índole duvidosa não me deixam enxergar melhor cenário
daqui para frente. Não, eu não sou contra as reformas que tiverem que ser feitas,
só não posso compactuar com a maneira como eles estão sendo conduzidas de forma
atabalhoada, não posso crer em medidas que só facilitam a vida do grande
empresariado, do mercado econômico. Se nesses modelos sustentabilidade e
solidariedade não são princípios primordiais não posso compactuar.
E antes que o caro
leitor de opinião contrária me taxe de esquerdista ou de direita, ou de
qualquer outra posição política, aviso que isso não vem ao caso, a discussão
aqui não é se o PT (vulgo Lula) estava nos escândalos, ao que me conste é
difícil saber qual partido político não entrou na dança, inclusive da antiga
oposição, não sairei em defesa de ninguém da classe política que esteja
envolvido em atividades ilícitas. Mas não vou me furtar de dizer que a impressa
de massa (a qual não sou telespectador já tem anos) não trata com equidade os
personagens desse escândalo vergonhoso, tenta blindar certas figuras, mas
Fachin parece que não deixou.
Uma pena, lamentável,
vergonhoso, e gostaria de mais energia de forma igualitária aos envolvidos,
para que se faça justiça, esteja quem estiver envolvido. Digo isso porque em um
jantar outro dia desses que fui convidado, em que os membros em sua totalidade
eram da elite, herdeiros de certas oligarquias da região onde moro, se
regozijavam ao bradar que um único homem deveria ser preso, de que haviam
crimes sérios e crimes menores, que o caixa 2 era coisa boba se não a eleição
não sai, e se você, estimado leitor, pensa igual, veja que sistema tortuoso nós
vivemos, onde o errado é meio certo. Nesse mesmo jantar era proibido falar de
reforma da previdência, transferência de renda ou coisa parecida, pois isso não
interessa. Afinal muitos ali já eram usuários dessa mesma previdência “falida”.
Se o errado é meio
certo, talvez faça sentido falarmos em intervenção militar, em figuras
messiânicas (defensores da boa moral) que prometem reestabelecer a ordem, que
dizem que minorias, como índios e quilombolas devem ser execradas de seus
territórios, que são preguiçosos, ou que homossexualismo é uma doença. Porém
digo que certo é que o povo brasileiro (me incluo totalmente nessa crítica) tem
memória curta. Pois se acaso não sabeis sobre Delfim Neto e o Caso Camargo
Correia (durante a ditadura militar), se nunca ouviu falar de censura,
genocídios, empréstimos astronômicos em prol do milagre econômico, ou indo mais
longe no papel de Carlos Lacerda na difamação sistemática do presidente mais
populista do século passado em nossa nação, não poderemos seguir adiante na
discussão, pois o cenário é de Fascismo Social. Recomendo também que se leia o
artigo “Berço de ouro, mentalidade autoritária: a “árvore genealógica” da Lava
Jato”, no site Brasil de Fato, cujo o colega Prof. Marciano da UFCG – Sumé
também assina, leituras como essas ajudam na percepção e na memória.
Por instigação do
Professor Felipe Gervásio Pinto da Silva da UFCG – CDSA – Campus Sumé, isto
mesmo em Sumé a 32 km de Monteiro-PB temos uma Universidade Federal, além da
Universidade Estadual da Paraíba e do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia da Paraíba aqui em Monteiro, um legado fundamental para
desenvolvimento do País deixado pelo Governo Lula, as universidades e a
educação tecnológica e a inclusão social foram o carro chefe do seu governo.
Por indicação do Professor Felipe me senti intimado a ler Boaventura de Souza
Santos e seu conceito de Fascismo Social. Para este importante pensador da
atualidade o fascismo social é diferente daquele fascismo político instalado na
Alemanha.
O fascismo social se dá
a partir do momento em que há uma crise no contrato social de uma dada
sociedade, isto é, quando as noções de igualdade, justiça e solidariedade
deixam de ser importantes naquela comunidade, em detrimento de valores
individuais, onde grupos sociais e indivíduos passam a agir de forma
individual.
Assim como o fascismo político
o fascismo social ocorre em tempos de crise, suas consequências são
manifestadas pela dominação de um grupo por outro, ou seja, um grupo dominante
passa a tomar decisões unilaterais sem consultar o restante da população, isso
me lembra o movimento atual das PEC.
Ele se impõe de formal
paradoxal, ou seja, podem existir Estados democráticos onde há uma lógica
acentuada de fascismo social, afinal nós vivemos numa democracia. Ele pode se
manifestar em várias dimensões e esferas. No judiciário que ratifica ações
moralmente duvidosas, na mídia que induz o sentimento de insegurança pessoal e
coletiva.
Além disso, todas as
instituições procuram legitimar a precariedade das relações e dos contratos de
trabalho, na apropriação dos bens públicos por grupos privados, como processos
de privatização, e na supervalorização das transações de mercado que taxam o
fator trabalho, em detrimento do capital e dos altos rendimentos.
Pois bem, caríssimo
leitor é com tristeza que vejo nossa nação passando por características claras
de um fascismo social. Mas ficar triste não é o bastante, faz-se necessário o
engajamento em torno das discussões e a resistência a esse modelo nefasto que
tenta dizer que o problema da crise do País é dos trabalhadores, dos
professores, dos brasileiros, porque sempre somos nós que pagamos essa conta?
Com impostos altos, juros exorbitantes, reformas aligeiradas e duvidosas?
Não vemos nenhum
movimento legítimo por parte das classes dominantes (nem nunca veremos) no
sentido de amenizar a crise que a própria classe política subserviente ao
mercado financeiro, e com sede de poder, criou. A corrupção continua
desenfreada, as regalias, a hipocrisia, nada muda. O congresso é ineficiente, a
justiça é vergonhosa, e a corrupção segue a todo vapor, mas a sociedade, o
povo, parece estar em transe, em estado de letargia crônica.
Também não vemos nenhum
movimento legítimo, por parte dos parlamentares, em prol da auditoria da dívida
pública, prevista na constituição, que até onde sabemos, só serve para
alimentar o mercado financeiro que não se preocupa com nada além da sua própria
manutenção. Ainda somos um País onde a Educação é precária, o sistema de saúde
tem potencial para ser um dos melhores, mas a corrupção não deixa. Ainda
matamos os nativos dessa terra, ainda desmatamos a Amazônia, ainda... ainda...
ainda...
Mas 2018 tá aí, na
verdade meu caro leitor, 2018 já começou faz tempo. E não argumentos que me
convençam de que existe um nome que seja capaz de mudar essa realidade, o
sistema está falido, o problema não são as pessoas mais o sistema que
legitimamos. Não se consegue governabilidade sem ser corrupto. Por essa razão,
como cidadão brasileiro não irei as urnas em 2018 para eleger quem quer que
seja como meu representante no congresso nacional, senado ou na presidência.
Digo isso com pesar, porém com a consciência tranquila de quem cumpre com seus
deveres de cidadão. Enquanto corruptos se mantiverem no poder, enquanto as
instituições políticas forem nichos de oligarquias, de regalias para poucos,
enquanto não se convocar um debate sério sobre essas questões seguirei com esta
opinião, isso não significar que irei parar de lutar.
Termino esse texto de
opinião, declarando que não sou ingênuo a ponto de não reconhecer a negligência
do governo Dilma e do governo Lula, para com tantas questões importantes,
embora muitos avanços tenham sido alcançados. Ingênuo a ponto de não reconhecer
também que o movimento que culminou com a derrubada do governo Dilma e com
ascensão do seu “vice” ao poder foi motivado em grande parte interesses
políticos, se não, não seria chamado por muitos de golpe. Mas estamos em crise
e esse é um fato, todos pagam a conta, porém a parcela é sempre dos menos
favorecidos, é fato também que sempre conseguimos dar a volta por cima, porém a
que custo? Os servidores públicos são a mazela do Estado?
Ao contrário do
pessimista, tenho esperança, afinal sou educador, acredito que a sociedade
brasileira chegará em um patamar que se faz necessário repensar nossos valores,
nossas atitudes, nossas metas. Acredito em nossos estudantes os quais têm feito
um movimento de resistência legítima contra ao fascismo social que hora se
instala em nosso País. Faço lembrar Geraldo Vandré, sempre atual... “vem vamos
embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer...”
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