Mulheres como a Sra. Odete são um símbolo de luta, não apenas pela sobrevivência, mas de afirmação.
por Elton Machado de MeloJornal Portal de Tupanatinga
Nascida na Mata Verde
no ano de 1949, foi batizada com o nome de Maria
Pereira de Santana, mas é conhecida como “Odete”, pois o Padre José Kelly, na época, vigário da região, pois
Tupanatinga não tinha sua própria paróquia, não concordou com o nome Odete, que
fora sugerido pelos pais!
Quando criança, trabalhava na roça colhendo feijão e algodão. Eram
tempos áureos (narra a Sra. Odete), mas os tempos de fartura acabaram e no ano
de 1976, ela e sua família migraram para a área urbana da cidade, fugindo da
seca e do desemprego. D. Odete, casada com o Sr. Gercino José de Santana, conhecido como “Sino”, (o qual também
trabalhou na roça e em uma padaria para garantir o sustento da família) teve
dez filhos, sendo nove homens e uma mulher, o que exigia do casal sempre novas
formas de garantir a subsistência de todos.
Aposentada pelo município, na área da saúde, onde lavava os corpos
para os sepultamentos, auxiliava nos partos,
além de limpar os ambientes, os recursos se revelaram poucos diante das reais circunstâncias
de sobrevivência, levando o casal a buscar na catação de papelão para a
reciclagem uma forma de complementar o dinheiro para pôr a comida na mesa e
pagar as demais contas. Mas, com o tempo, os compradores da matéria – prima
deixaram de adquirir o produto. O Casal logo buscou outro recurso e encontraram
nas embalagens plásticas a fonte que iria complementar sua renda. Em meio a
toda essa situação, a Sra. Odete e seu companheiro, Sino, enfrentaram muito preconceito,
pois de maneira geral, as pessoas costumam “enxergar” os outros e avaliá – los
conforme suas ocupações profissionais e seus status sociais. Nem por isso,
desanimaram. Continuaram e prosseguem recolhendo os materiais plásticos muitas
vezes descartados de forma incorreta pelas ruas da cidade. É bem verdade que
muitas pessoas são solidárias com o casal e reservam garrafas plásticas e
demais materiais de origem plástica para entregar – lhes.
A Sra. Odete, ao lado de seu companheiro Sino, contribuem para o reaproveitamento
de materiais, que de forma indiscriminada são jogados nas vias públicas de Tupanatinga,
nas áreas de terrenos baldios da cidade, nos esgotos e nas valas por onde
escorrem as águas poluídas produzidas pela população. Sua ação produz muitos benefícios
para todos e deveria ser reconhecida pelo poder público, recebendo apoio e
incentivo para que continue de forma mais digna o seu papel enquanto cidadã.
Mas, não é assim que funciona!
Mulheres como a Sra. Odete são um símbolo de luta, não apenas pela
sobrevivência, mas de afirmação, enquanto Mulher que não foge à peleja de forma
digna, de cidadã que, apesar das poucas letras em sua formação, não se rende à
limitação de uma consciência política ativa, no que diz respeito a sua conduta
de preservação ambiental, de poupança quanto à retirada dos recursos da
natureza cada vez mais desgastada diante do consumismo descartável desenfreado.
Ao observarmos a Sra. Odete com seu caminhar lento, mas
determinado, pelas ruas de Tupanatinga, não imagina que seu nome significa “rica”, “cheia de bens”, “virtuosa”. E de fato,
sua riqueza é rara, pois vem de sua honradez em sua simplicidade, cujos bens
não são corruptíveis, cuja virtude só é perceptível por àqueles que tem coragem
de entender a sua jornada, a sua luta!
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